Salmos de Degraus ou Cânticos das Subidas


Estes Salmos são chamados de Salmos de Peregrinação, ou Cânticos das Subidas, ou em algumas Biblia, Cânticos de Degrasus.

No cabeçalho de cada um destes Salmos encontra-se a expressão shir hama´alot, que significa, literalmente, cânticos ou canção das subidas. A expressão “das subidas” está ligada a palavra ma´alot, que tem a raiz verbal na palavra(‘alah), que significa subir. Existem algumas traduções que interpretam o termo shir hama´alot por “salmos de romaria (ou romagem)”.

Certas canções das subidas receberam acréscimos, como os Salmos 122, 124 e 133 com a expressão ledawid (para Davi) e outra no Salmo 127, com a expressão leShlomon (para Salomão). Essas canções foram usadas no período pós-exílico pelos peregrinos que iam em direção as festas cultuais no reconstruído Templo em Israel, a saber, as celebrações: da Páscoa (Pesach), das Semanas ou Colheita (Shavuot) e dos Tabernáculos (Sucot). Estas são as três festas de peregrinação descritas na Bíblia como mandamento. Cada Israelita deve subir a Jerusalém para ser visto ou ver a Deus no Templo.

Um fato curioso neste grupo de Salmos é que apenas o Salmo 122 faz menção especificamente à peregrinação para o Templo da cidade santa, a Jerusalém. Conforme no verso 1 e 2, “Alegrei-me quando disseram para mim: Para a Casa de Javé, nós vamos; Colocados estão os nossos pés, nos teus portões, ó Jerusalém”, revela uma ação contínua, evocando uma ideia de movimentação no sentido de peregrinar, ou seja, o fato se consome na medida em que os peregrinos vão em destino à Jerusalém, no Templo.

Diante deste aspecto, cabe analisar quais seriam os critérios para a formação desta coleção de 15 Salmos (120-134) e o porquê destes Salmos estarem agrupados sob o mesmo título. Uma explicação coerente para tal questão é devido no título de cada um desses Salmos apresentarem a palavra shir (cânticos) que evoca o sentido de tal ajuntamento, ou seja, esta coleção foi agrupada, devido estes Salmos serem uma coleção de cantos.

Três características que poderiam explicar esta questão: uma refere-se às repetições ou frases em versos sucessivos, dando a impressão de tratar-se de passos dentro de um processo. A segunda considera que os quinze salmos teriam relação com os quinze degraus que vão do culto das mulheres ao culto de Israel. A terceira associa estes cantos com a subida dos exilados do cativeiro na Babilônia (Esd 2,1; 7,9).

Para Luis Alonso Schökel, estes cânticos retratam os cantos dos repatriados à luz do contexto de cada salmo e o sentido proeminente destacada pelos poetas bíblicos está ligado ao retorno como uma celebrante peregrinação.

Estrutura dos Shir hama’alot (cânticos das subidas):
A coleção dos Shir hama´alot apresenta uma estrutura consistente e coesa. Ela não foi formulada sem uma razão, mas oferece uma estrutura que indica certa intencionalidade do autor, sendo composta e organizada. São composições curtas, exceto o salmo 132.

1. Os Salmos 120-122
Os salmos 120-122 é uma introdução desta coleção. A peregrinação começa no 120 e termina no 122 com “seus pés” nas portas de Jerusalém. Esta composição apresenta segundo Milton Schwantes, três temas:

1) Sl 120:o tema do Êxodo, a opressão dos homens de Meseque e a confiança em Deus que escuta a oração de seu povo que está em perigo; 2) Sl 121: o tema é da confiança em Deus, conforme o Sl 120, que no caso o salmista está em viajem para Jerusalém e pela noite o Senhor o abriga, livrando-o de qualquer ameaça;

3) Sl 122:a chegada segura em Jerusalém. Esta introdução da coleção ma´alot está baseada no tema da confiança em Javé e que une estas três poesias.

2. Os Salmos 123-126
A segunda parte da coleção dos cânticos de subida apresenta os salmos 123-126 que opostamente do 120-122 que fazem uma oração individual, esta agora é uma súplica coletiva, que segundo Milton Schwantes ressalta é as dores que o salmista carrega em si para compartilhar com os demais em Jerusalém. Para Tércio M. Siqueira, não muito diferente do que o Schwantes destaca, é o tema do lamento que é uma expressão significativa neste bloco.

O que caracteriza este grupo é a súplica lamentosa presente em cada um destes salmos: Tem misericórdia, Javé, tem misericórdia (Sl 123,3); Faze o bem, Javé, para os bons... (Sl 125,4); Retorna, Javé, os nossos cativos (Sl 126,4). Embora fugindo ao padrão literário destas três composições (Imperativo + nome de Javé + repetição do tema), o salmo 124,6 faz basicamente o mesmo processo.

Mesmo sob o tom de lamento presente nestes textos, o tema da confiança em Deus continua presente nestes salmos, pois apesar da súplica de descontentamento contra os malfeitores, o salmista expressa sua esperança em Javé.

3. Os Salmos 127-129
Este conjunto de textos apresenta a mesma configuração anterior, o tema da confiança, porém de forma ou gênero diferente. Assim é o caso dos salmos 127-128 com a confiança em Javé pautada no gênero sapiencial. O salmo 129, em tonalidade mais coletiva, fecha este conjunto e apresenta a confiança em Javé frente aos seus opositores. Este conjunto começa relatando sobre os malfeitores (Sl 127) e conclui relatando sobre estes malfeitores (Sl 129), mas com uma afirmação de confiança em Deus. “Outra evidência da unidade, entre os salmos 127-129 é a declaração de fé, nos salmos 128 e 129: os que confiam em Javé receberão as Suas bênçãos.

4. Os Salmos 130-131
Os salmos 130-131 fazem parte de um mesmo conjunto apresentando também uma mesma temática dos conjuntos anteriores, ou seja, o tema da confiança em Javé (Sl 130,7 e 131,3). O salmo 130 é uma afirmação de fé baseado na confiança na libertação de Javé e o Salmo 131 é uma oração de confiança.

5. Os Salmos 132-134
Este conjunto de salmos (Sl 132-134) é a conclusão dos ma´alot, onde o destaque maior está no verbo barak, abençoar e no louvor do povo ao receber as bênçãos de Deus. Para Schwantes, esta conclusão é a despedida dos peregrinos que estão em Jerusalém e são abençoados pelo sacerdote: “é como óleo fino sobre a cabeça, descendo pela barba, a barba de Aarão”.

Portanto, nesta coleção dos shir hama´alot temos o tema da confiança como um fator central e que tem por periférico os conflitos vivenciados no cotidiano do povo. Assim, os devotos de Javé seguem em peregrinação em direção a Jerusalém tendo por foco a confiança de que Javé irá abençoá-los. Destaque para a introdução que evoca o sentido da confiança e para a conclusão que evoca o sentido do louvor, onde entrelaçados dão sentido a uma coleção que está voltada para questões do culto.

Quando foi escrita esta coleção:
Neste momento será analisada a época em que se inserem os Salmos de Subidas. Conforme visto anteriormente, se torna uma tarefa complexa saber com exatidão o período em que estas poesias foram formadas. No entanto, o que se pode perceber são algumas pistas que podem levar a uma datação periódica dos textos.

Diante de tais questões, destaca-se o pensamento de Carlos Mesters que diz que os Salmos de Subidas são originados da vida do povo de Deus. Com isso, eles são de tempos diferentes, podendo até se contextualizar com o nosso tempo. Contudo, diante de variadas referências da época pós-exílica encontrada nestes salmos faz-se supor que este bloco de poesias faz parte desta tal época.

Para Milton Schwantes, os salmos de subidas “sem sombra de dúvidas” estão relacionados ao período pós-exílio, excepcionalmente por volta do ano 350-300 a. C., no contexto dos persas e gregos. Também, outros pesquisadores compartilham da mesma hipótese devido à literatura dos Salmos terem algum tipo de semelhança com os textos de Crônicas, Esdras, Neemias e Rute. Segundo Tércio M. Siqueira, outra questão relevante que leva a pensar no período pós-exílico é o tema da confiança tão presente nos shir hama´alot, canções das subidas.

Outro fator histórico que contribui para datar esta coleção é o tema da confiança, fortemente presente no conteúdo desses salmos. Como um livro destinado a estimular o povo a confiar em Javé, é possível pensar, com forte possibilidade, que estes salmos foram compostos e editados com a finalidade de fortalecer na fé uma comunidade sem consolo e destruída pela desestruturação, primeiramente, empreendida pelos babilônios e, mais tarde, os persas e os gregos.

Fonte: Abíblia.org 

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