Reforma

Por Fabio Müller

"Orare et Labutare" foram termos utilizados por Calvino para assim expor o pensamento que os reformadores tinham com relação ao caráter divino-humano das escrituras. Com os termos ele expôs a necessidade da oração pedindo ao Espírito Santo a iluminação para entendimento e interpretação correta das Escrituras ao se aplicar ao estudo da mesma. Lutero expôs o mesmo pensamento quando disse: "Um barco com dois remos, o remo da oração e o remo do estudo. Com um só destes remos, navega-se em circulo, perde-se o rumo, e corre-se o risco de não chegar a lugar algum."

Ao que parece, o mesmo sentimento reformador não se encontra presente em muitas denominações e igrejas brasileiras, ficando difícil até diagnosticar as causas devido à pluralidade de denominações e pouco comprometimento com a interpretação equilibrada e coerente das escrituras.

O uso da exegese e da hermenêutica tem se tornado escasso, a falta de compromisso com a sã doutrina de igual modo. As muitas interpretações individuais das Escrituras têm arremetido as igrejas, até mesmo as mais tradicionais, aos enganos das interpretações erradas, tendo como resultado uma igreja com uma teologia rasa, não confessional e sem identidade histórica.
Há uma necessidade de mudança com relação a este pensamento na igreja brasileira, haja visto, que o comprometimento com a interpretação correta das escrituras, não podem de forma alguma ficar em segundo plano, sendo substituída por questões mais práticas. A relevância da hermenêutica e exegese é um fator que deve ser considerado como essencial para uma boa pregação. Todo leitor é um interprete. Há textos evidentes de fácil interpretação, porém nem sempre se aplica a regra, alguns textos precisam ser examinados de forma minuciosa, daí a relevância da aplicação das regras da exegese e hermenêutica para entendimento correto dos textos bíblicos.

Alguns aspectos devem ser levados em consideração na interpretação das escrituras. A prática do método gramatical histórico é de suma importância para uma boa interpretação. Deve-se também levar em consideração que as Escrituras foram inspiradas por Deus, a fé é um pré-requisito para a interpretação desta, assim como nenhum escrito é de particular interpretação, o texto fala por si. Outro erro que não pode ocorrer é o isolamento do texto do seu respectivo contexto. Os textos obscuros não devem ser base para doutrinas, devem dar lugar aos de interpretação clara, de igual modo, os textos bíblicos não podem ser interpretados de modo a se contradizerem, o interprete deve levar em consideração a progressividade da revelação de Deus aos homens.

Concluo que a aplicação diligente na interpretação honesta e coerente das Escrituras Sagradas é certamente o caminho mais árduo, talvez o menos valorizado ou o que chame menos atenção, porém, é o caminho certo a se trilhar. Precisamos mais do que nunca, de interpretes comprometidos com Deus e a sua palavra, para assim termos uma igreja sadia, fundamentada, doutrinada e marcada na historia.

Texto escrito com base no artigo Orare et labutare - A hermenêutica reformada das escrituras.

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