Viva a vida II - O bom de ser criança


Ter um autorama, um Comandos em ação, uma fazendinha era fantástico. Para as meninas brincar com a boneca que fala e anda era incrível, mas você se lembra o quanto era possível se divertir com algo simples como uma caixa? Ou um balde de água? Ou um carrinho de rolimã improvisado?

Apesar dos diferentes cenários e contextos, as crianças são as mesmas em qualquer lugar do mundo. Elas querem brincar, se divertir e conseguem isso com coisas simples, apesar da "magia" dos joguinhos de computador, smartphones, tablets e brinquedos supermodernos. No fim das contas, tem coisa melhor do que viver em um mundo em que tudo pode ser diversão e o mais simples dos objetos se transforma no melhor dos brinquedos?

As lembranças que tenho da minha infância são memórias que me traz um misto de saudade e alegria. Saudade pelas amizades, da educação que tive ao lado do meu irmão e primos (família Reis e Müller), dos jogos de super Nintendo, dos piques, das peladas na rua da minha casa em Ponte Nova, da época em que a nossa única preocupação era fazer de tudo uma brincadeira. E alegria por perceber que apesar das dificuldades que eu encontrei na minha saúde, eu tive uma infância privilegiada, Deus me concedeu muita coisa boa.

Outro dia estava passando de carro numa rua que faz cruzamento com a minha, e um garoto jogando bola deixou com que a bola viesse parar debaixo do meu carro. Eu parei o carro e permiti que o garoto pegasse a bola, e para o meu espanto ele disse: - Desculpa moço! Havia muito tempo que eu não ouvia isso! Como aquela cena me fez recordar a minha infância, aquela simples frase me pedindo desculpas me fez ter esperança, e eu pude perceber que embora as coisas estejam mudando, principalmente com relação ao tratamento que os mais novos estão dando aos mais velhos, ainda existem pais que conservam a boa tradição de educarem os seus filhos, e não deixam esta responsabilidade para os órgãos de ensino.

A infância é uma etapa da vida que não deve ser negligenciada. Não podemos tirar o direito das nossas crianças de serem crianças. Penso que as crianças devem aprender a ter responsabilidade, mas responsabilidades concernentes a sua faixa etária, e não uma sobrecarga como se as mesmas já tivessem estrutura para isso.

Ser criança é viver em um mundo a parte. É rir de desenhos animados bobos e achar que tudo é brincadeira. É pensar que se o dinheiro acabar é só a mãe passar um cheque (a minha esposa pensava assim) que está tudo resolvido. É viver o sonho de ser o Batman, Ben10, Barbie ou uma das princesas da Disney. É viver a inocência daqueles que sem saber tem direito ao céu, pois tamanha é a imaturidade intelectual que não conseguem discernir sobre as questões espirituais. 

Jesus colocou as crianças em lugar de honra, e é justamente esta condição que nos é posta por Jesus. Jesus disse: "Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele". (Lc 18.15-17)


Para pensarmos sobre essas palavras de Jesus, eu gostaria de me valer de uma postagem do Ed René Kivitz em sua página do Facebook, que diz:

Mergulhei no silêncio e esperei que a palavra viva encontrasse o caminho do meu coração e respondesse minhas perguntas: por que devo ser menino? o que significa se fazer menino? de que maneira Deus foi menino?
 
Duas verdades explodiram dentro de mim. A primeira, a respeito da condição da criança. A segunda, a respeito da qualidade de relação própria da criança.

Imaginei uma conversa entre as Pessoas da Santíssima Trindade ocorrida na eternidade. Jesus olha para o Pai e diz: “Eu me esvazio, abro mão das minhas prerrogativas divinas, e mergulho na mais vulnerável condição humana. Vou ao ventre de uma mulher. Vou ao colo e ao seio de Maria. Aceito me fazer menino”.
O ato voluntário de Jesus implica a disposição de colocar-se sob o cuidado alheio. Uma criança, ou recebe cuidado, ou morre. Dos recém nascidos, o ser humano é o que exige maiores e complexos cuidados, e por mais tempo. Ser criança é ser vulnerável. Ser menino é ser dependente do pai, da mãe e tantos outros cuidadores. O ato de Jesus implica dizer ao Pai: “Eu me entrego absolutamente aos teus cuidados. Abandono-me em tuas mãos. Fico à tua disposição. Inteiramente dependente do teu amor. Completamente à mercê do teu caráter justo e bom”.

Lembrei de quantas vezes ao longo desse ano me percebi como criança encolhida em posição fetal, acolhida na palma da mão de Deus, minha manjedoura. Não me acovardei, não fugi da vida, não abri mão das minhas responsabilidades, não deixei de encarar o ônus que o sagrado direito de viver impõe. Apenas admiti minha finitude, minha impotência, minha incapacidade e meus limites diante das cruéis e sublimes dimensões da existência. As injustiças das sociedades humanas marcadas pela destruição e ganância, e a maravilha do universo em expansão me mostraram meu real tamanho, e me fizeram orar suplicante. O peso da maldade contra mim, a vergonha do mal que me habita, a inconstância dos meus pensamentos e sentimentos, a perplexidade em momentos de confusão e conflitos, a impotência diante dos paradoxos da vida, as demandas dos que me buscam clamando por socorro, me fizeram muitas e muitas vezes correr para as mãos de Deus e me entregar em absoluta dependência, como um menino que se derrama no colo do pai, despido de qualquer vergonha por ser ainda menino.

Sei que sou homem. Sei que sou rei. Sei que o Espírito de Deus habita em mim. Mas sei que sou menino. Não me ofendo quando ouço meu Pai dizer que não sou capaz de sustentar a existência com minhas próprias forças, encarar o mundo com minha própria sabedoria, resolver a vida com minha pretensa onipotência. O estado de criatura, e o sentimento de dependência não me causam revolta. A consciência de ser “homem insuficiente” me coloca de joelhos. Na verdade, me faz correr repetidas vezes para o refúgio seguro dos cuidados do meu Pai Celestial.

Ser criança é uma dádiva concedida pelo Pai! 

Imagens extraídas do site: Hipeness

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